terça-feira, 28 de setembro de 2010

A análise do drama II

A morte do homem.
 
O cheiro da senhora ainda permanecia em seu quarto,
Fechado desde a semana passada enquanto chovia;
Ainda se encontra este na penumbra em dias de sol,
Não arriscaria ele perder aquele perfume de pele.

Sua roupa no canto direito, perto à porta entreaberta,
Demonstrava o fraco asseio de um senhor debilitado,
Eficazmente ferido pela palavra do outro,
Que outrora se chamava; a base de minha existência.

-

“O telefone toca,
Ela atende,
Ele sussurra,
Ela entende.”


Se fosse ele cruel, diria,
Que sua alma morreu de solidão,
Seu corpo desidratado pela insistente,
E nociva demanda de lágrimas; sofre em silêncio.

Seu anseio em puni-la é grande,
Olha para fora pela fresta da janela do banheiro e chora,
Sepulta a si mesmo em comiseração a cada soluço dado.
Onde não fora mais perdoado por esquecer seu coração
Na mão de uma estranha, diga-se aqui, paixão.

-

Na festa a luz de tochas e lampiões,
Encontrava-se ainda com olhos vermelhos,
Mão tremula e mente vazia; uma folha em branco talvez.
Não se via mais o jovem poeta, só o velho corpo de alguém,
Que por sua vez perdeu o espírito do que antes era um deus.

Aos amores correspondidos, disse ele a mim:
- Sorria como se fosse um arlequim,
Viva para não se arrepender no fim.
Mas, quero que saiba, que este que aqui vês,
É aquele que em outro momento de poesia vivia,
E agora mal consegue concluir uma prosa,
Quem dirá uma melodia.

Pois, no amor e na vida, o ser não passa de um volantim,
Que caiu de sua corda bamba e ao invés de subir novamente,
E mais uma vez encantar o mundo dando sorrisos como presentes,
No chão chora ao olhar para cima e suspirando abomina,
O simples pensamento de tentar ser feliz novamente.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

A análise do drama.

A fotografia, o copo d’agua e o poema.



Na mesa da sala, onde estava Reginaldo,
Encontrava-se um lindo porta-retratos,
Parecia que estava ali há empoeirados anos,
De uma madeira rústica porém de imenso brilho.

A foto era em papel de linho,
Em um maravilhoso tom sépia acabando-se em vermelho vivo.
Reginaldo quase podia sentir o cheiro do papel,
E a textura andava por sua língua e descia até a ponta de seus grossos,
E já castigados dedos de artesão.

-

Ela chegou e o entregou um copo com água,
A água não tinha o mesmo gosto da que em casa bebia,
O copo turvo e mal lavado, indicara que aquela mulher já não enxergava como antes,
Mas, mesmo assim, pensou Reginaldo levando o copo a boca
Essa é a melhor água que já me ofereceram em minha miserável vida de servente.

“Quer mais?”

Foi essa a pergunta que me fez esquecer do gosto daquela água,
Que em copo turvo me foi servida e nada mais importava.

“Sim, mas, menos que o primeiro. Por favor”.

- Desculpe a indiscrição da pergunta,  o rapaz vai em direção a mesa e lentamente olha novamente para o porta-retrato que se perdia em meio aos raios de luz do entardecer.
- O que você segurava na foto? Que folha era essa? - Pergunta.

Um momento de silêncio o fez arrepender-se do questionamento,
E então um suspiro surgira quebrando o engolir seco,
Aquele que muitas vezes marcara com angústia a garganta de Reginaldo.

“Machado de Assis”.

Não mais que uma prosa, disse ela sorrindo com os olhos,
Indo em direção a cozinha para trazer-lhe outro copo d’agua,
Mas desta vez não tão cheio quanto o primeiro.
Suficiente apenas para tirar-lhe o gosto da foto,
Que ainda assombrava seu paladar.


-

Por que a vida me faz questionar a vida, perguntou para si,
Ainda temo o que posso ouvir desta mulher,
Possuo o receio de entender os seus motivos,
Ou deve ser apenas uma eterna sede,
De sua água servida em copo turvo?