A fotografia, o copo d’agua e o poema.
Na mesa da sala, onde estava Reginaldo,
Encontrava-se um lindo porta-retratos,
Parecia que estava ali há empoeirados anos,
De uma madeira rústica porém de imenso brilho.
A foto era em papel de linho,
Em um maravilhoso tom sépia acabando-se em vermelho vivo.
Reginaldo quase podia sentir o cheiro do papel,
E a textura andava por sua língua e descia até a ponta de seus grossos,
E já castigados dedos de artesão.
-
Ela chegou e o entregou um copo com água,
A água não tinha o mesmo gosto da que em casa bebia,
O copo turvo e mal lavado, indicara que aquela mulher já não enxergava como antes,
Mas, mesmo assim, pensou Reginaldo levando o copo a boca
Essa é a melhor água que já me ofereceram em minha miserável vida de servente.
“Quer mais?”
Foi essa a pergunta que me fez esquecer do gosto daquela água,
Que em copo turvo me foi servida e nada mais importava.
“Sim, mas, menos que o primeiro. Por favor”.
- Desculpe a indiscrição da pergunta, o rapaz vai em direção a mesa e lentamente olha novamente para o porta-retrato que se perdia em meio aos raios de luz do entardecer.
- O que você segurava na foto? Que folha era essa? - Pergunta.
Um momento de silêncio o fez arrepender-se do questionamento,
E então um suspiro surgira quebrando o engolir seco,
Aquele que muitas vezes marcara com angústia a garganta de Reginaldo.
“Machado de Assis”.
Não mais que uma prosa, disse ela sorrindo com os olhos,
Indo em direção a cozinha para trazer-lhe outro copo d’agua,
Mas desta vez não tão cheio quanto o primeiro.
Suficiente apenas para tirar-lhe o gosto da foto,
Que ainda assombrava seu paladar.
-
Por que a vida me faz questionar a vida, perguntou para si,
Ainda temo o que posso ouvir desta mulher,
Possuo o receio de entender os seus motivos,
Ou deve ser apenas uma eterna sede,
De sua água servida em copo turvo?
3 comentários:
Quem sabe a vida dela é um copo turvo...mas a de quem não é?!
Faz pensar...^^
Gosto muito dos teus comentários, são sempre tão contrutivos! =D
* a palavra é CONSTRUTIVOS ;) heheh
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