domingo, 22 de maio de 2011

Crítica ao Homem

Clareia o dia, ele arruma o cabelo sem pressa,
Observa o vagaroso passar dos ponteiros,
Com admirável serenidade; nota-se que esta
Não se atribui a sua idade, mas a suas trilhas.

O silêncio o circunda; ah, mas como este lhe falava duramente.
Falava verdades, fidedignas e ímpias.
Este silêncio o doía os ouvidos, este estrondo,
Insuportável era esta vazia multidão.

Sem o menor jeito ele aquece o café,
Escurecido do tempo; Demasiado amargo é o tempo.
Prepara o pão, apruma a toalha, senta-se à mesa,
E suja, a já floreios e doce ordem, casa.

-

Clareia o dia e sol vilipendia os olhos,
Torna-se imóvel diante ao telefone mudo,
Imóvel diante a desocupada cadeira na mesa,
Imóvel diante a metade vazia do guarda roupas entreaberto.

Senta-se vagarosamente na cama que range,
Via este somente a poeira que bailava
Entre os poucos raios de sol que entravam,
Pela janela aberta com descaso.

Porque não a abro por felicidade? – via-se sem rumo.
Porque não a fecho por tristeza?
É já é de sua natureza desejar o conteúdo
Vazio do infinito céu noturno.

-

Miserável! Por que agiste assim?
Por que fizeste de um bem o teu maior mal?
De que servirão as palavras deste homem,
Se são estas apenas histórias forjadas a sangue e lágrimas.

Oh, doce tarde de Junho, o que fizeste com minha alma,
Que agora clama por teu sol e seus ínfimos versos.
Talvez o antigo monstro se fora; ao longe,
Vejo o espectro de um espírito diáfano.
Palavras sempre hão de existir,
Mas para onde foram as razões de minha existência?

-

Mas uma vez o profeta vem ao povo,
Que está esquentando seu trêmulo corpo ao sol.
Este pede para que o sigam até a sombra fria,
De um velho carvalho cercado por mármore e limo.


Em meio a calorosas reclamações,
E disputas febris para abandonarem o frio recanto.
Na belicosa algazarra que ali se formava,
O arguto profeta sorri, sacudindo a cabeça; fala ao povo,
Que se postava em um silêncio de indignação:

Observem o sol desta sombra onde se encontram com o frio.
Por que ele não esquenta da mesma maneira a vós,
Como quando se banhavam à margem de sua dourada luminescência?
Ninguém entendera o motivo da ridícula pergunta; zombavam.

O profeta diz:

Porque seus corpos, dependentes do calor da luz dos céus,
Apagaram-se pela inércia de sua chama interior; suas almas congelaram.
E na falta do espírito nobre do divino homem, onde nada se inflama,
Somente do sol poderá prover o calor de para uma vida vazia.
Somente peço que tomem muito cuidado!
Se no caloroso abraço deste deus entregarem suas verdades,
Estas agora feitas de puro e translúcido gelo,
Com o passar do tempo irão derreter até não mais existir.
E aquele que um dia foi rei de um infinito reino de glórias,
Será apenas água, lama e lamentações.


-


A primeira coisa que fazemos ao subir uma alta montanha
É olhar para baixo com afinco, desprezando nossa conquista.


Prates, F.

1 comentários:

Tamiris Mend. disse...

Junho,
A menor das coincidências nesse texto. Cenário, sentimentos e até a luta que teve para escolher os sinônimos, vivo agora para dizer que embora me falte jeito, sobra vontade de interagir com os textos seus.

Postar um comentário

Acrescente algo útil