A morte do homem.
O cheiro da senhora ainda permanecia em seu quarto,
Fechado desde a semana passada enquanto chovia;
Ainda se encontra este na penumbra em dias de sol,
Não arriscaria ele perder aquele perfume de pele.
Sua roupa no canto direito, perto à porta entreaberta,
Demonstrava o fraco asseio de um senhor debilitado,
Eficazmente ferido pela palavra do outro,
Que outrora se chamava; a base de minha existência.
-
“O telefone toca,
Ela atende,
Ele sussurra,
Ela entende.”
Se fosse ele cruel, diria,
Que sua alma morreu de solidão,
Seu corpo desidratado pela insistente,
E nociva demanda de lágrimas; sofre em silêncio.
Seu anseio em puni-la é grande,
Olha para fora pela fresta da janela do banheiro e chora,
Sepulta a si mesmo em comiseração a cada soluço dado.
Onde não fora mais perdoado por esquecer seu coração
Na mão de uma estranha, diga-se aqui, paixão.
-
Na festa a luz de tochas e lampiões,
Encontrava-se ainda com olhos vermelhos,
Mão tremula e mente vazia; uma folha em branco talvez.
Não se via mais o jovem poeta, só o velho corpo de alguém,
Que por sua vez perdeu o espírito do que antes era um deus.
Aos amores correspondidos, disse ele a mim:
- Sorria como se fosse um arlequim,
Viva para não se arrepender no fim.
Mas, quero que saiba, que este que aqui vês,
É aquele que em outro momento de poesia vivia,
E agora mal consegue concluir uma prosa,
Quem dirá uma melodia.
Pois, no amor e na vida, o ser não passa de um volantim,
Que caiu de sua corda bamba e ao invés de subir novamente,
E mais uma vez encantar o mundo dando sorrisos como presentes,
No chão chora ao olhar para cima e suspirando abomina,
O simples pensamento de tentar ser feliz novamente.